Tuesday, January 08, 2008

O último céu


( Fotos by Luh Oliveira - Gramado/RS -2006)
luas sangram pétalas de fogo num céu nu

a noite rasga o ventre do infinito – azul


o céu revolto em noite escura, sangrando estrelas nuas

mudando as marés e as rotinas

as constelações sorrindo em insanidade divina

pétalas de luz, ágata-marinha


e como todas as noites, ainda tentamos voltar para casa

tentamos voltar para casa


ondas dançam nas coberturas dos edifícios

rosas nascem nas trincas dos precipícios

e todos os alarmes tocam diferentes notas

a chuva é calma e o vento tem todas as respostas


o vento tem as respostas

the wind has all the answers


não há mais rotas, estradas, a vida de antes os caminhos de antes,

o que éramos antes,

éramos...


hoje o firmamento não trouxe a aurora

agora já estamos em casa

definitivamente em casa...


o vento é que tem todas as respostas.


Tonho França

Da América do Sul(abaixo da linha do Equador)

( foto tirada em Gramado /2006 by Luh Oliveira)


Sei das minhas rotas, e das portas que fechei

Sei das linhas imaginárias que não cruzei

É natural na América do Sul

Abaixo da linha do equador

Eqüidistante em mim, alegria e dor.

É natural sonhar quintais sem cercas ou muros

E não falar inglês

Não tenho paredes, nem flores artificiais

Nada em mim é seguro, sólido, permanente,

Minha alma é tatuada por versos em constante metamorfose

Por isso às vezes, sangro uma tristeza calma,

Aos solos baixo de um violão

Na dança lenta da fumaça

E o coração se fecha um pouco, quase falha

E a lágrima disfarçada brinda o rosto

e se espalha por toda a linha do Equador

Sem muros ou cercas nos quintais

Aos solos do violão

Eu e minha solidão

nada mais.



Tonho França.

Sunday, December 30, 2007


Túneis de cores e aspirais
Abertos no ventre da noite
Trinta estrelas e seu traço definitivo
Linhas de luz-norte-infinito
(Cassiopéia em azul vestido)
Agora códigos desfeitos do paraíso
São os filhos dos deuses da pedra
E dos olhos de cachimbos de vidros
novas meninas, meninos
músculos tensos, versos de fogo
som de tempo-ferro-fundido
Lábios em cores friascom risos alucinados
fogos de artifícios
cospem balas de cobre
na retidão do impossível
sangram em ágata-laranja
a sentença de tudo ser permitido....

Noites de poesia


Tenho nas mãos uma lua,
e duas moedas antigas
Brinco de jogar pedrinhas
A noite não me traz nenhuma promessa
Sei onde deixei minhas preciosidades
Poucas e verdadeiras relíquias
E que alcançá-las, tocá-las, não posso mais.
Já não me pertencem
O tempo não é senhor de tudo
O tempo não apaga tudo
Até muda o humor das marés e dos homens
Cercas e soberanias, domínios e propriedades
Envelhece aquilo que lhe é permitido envelhecer
mas há pinturas em minha pele
Há segredos nos meus olhos,
Há muita coisa em meu coração
Intangíveis, por isso minhas
E só minhas são.
E só minhas são.
E com elas, em noites de poeta e poesia
Brinco de jogar pedrinhas
Com duas moedas antigas
E a lua que tenho nas mãos
O tempo?
Que passe ou não
Por mim em vão.

(Todos os direitos reservados)

Saturday, June 23, 2007

Saudades, nada mais


Almíscar, Artemísia, hortelã,

arruda, manjerona, cidreira,

Sonhos antigos semeados

Por canteiros e orações.

O colibri entre seduções,

Descansa na mangueira,

A tarde parece descer a serra,

Como se em prece, tão serena,

A noite logo chega,

O vazio na rede, tange o coração,

Lembra o amor que não se fez,

Voa colibri, um dia eu vôo de vez.

Sunday, May 20, 2007

Filho

O filho que não tive,
Hoje por certo,
Abraçaria-me com os olhos de vida,
E ouviria a palavra Pai...
E se chorássemos, ou festejássemos,
Ou até se nos calássemos,
Sentiria em mim a sensação da continuidade,
De que a vida não se esvai,
O calor do meu corpo, no calor do seu corpo,
Eu Pai.

Ventos de solidão

A solidão rasga as cortinas,
Entorna os vinhos, quebra os tonéis,
Vem pelas escadarias,
Anjos nus em ventanias,
Lava os anéis de todas promessas,
A solidão não tem pressa.
Sangra a poesia,
e os homens ficam assim,
turvos, curvos, mudos...
E as ruas ficam assim,
Cobertos pelo pó de tempo,
Amanhecendo esquecimentos,
Que nunca tem fim.

Monday, April 02, 2007

Vida vista pela janela...(cenas de um tempo sem sentido...)



Malas desfeitas, réstias rosadas
Bordam tons diversos a cortina
As lágrimas descem pelos sinos
Sons de pássaros, cristais de asas
Partem as porcelanas do destino
No poente da tarde azulada.
Outonos descansam nos ipês
Flores amarelas da estação passada
(como são inúteis os álbuns de fotografia!)
a vida dança e chora nas folhas mortas
nas caladas calçadas, entre rosas,
almas, orações e lamentos
é preciso que chova as águas de março
é preciso nos lavarmos de nós mesmos
já é inútil usar a escada de incêndio
já não há saídas de emergência
só meninos nos semáforo
equilibrando o universo todono riso alucinado e colorido
das bolas de malabarismo.

Tonho França.

Tuesday, January 23, 2007

Blues à tarde( com flauta doce...)


Pausa à tarde ecoa flauta doce
Pelos canteiros da avenida
Brilha um alecrim-de-angola distraído
O charuto cubano mantém-me sóbrio
Apesar do cheiro de anis,
(não aspiro à pressa dos prédios e dos homens)
Os elevadores presos no subsolo
Deixa-me com sensação de liberdade e improviso
(lembra-me blues, solos de blues)
Ainda tenho uma ampulheta,
Uma estatueta de louça
Fotos onde amarelam sorrisos brancos de tantos amigos
(todos ali estáticos como se não houvessem partido)
Um sax americano dos anos sessenta
E alguns selos antigos
(o camelô da esquina vendia-me até sonhos...)
mas o charuto cubano é legítimo
essa lágrima que verte sozinha, é legitima
o verso que hoje não escrevi
fez-se por si e é legítimo
e essa pausa na tarde que ecoa flauta doce,
faz o sol pôr-se em mim, sol em mim
solos de blues,
solos de blues,
solos de mim...

Monday, January 22, 2007

Amores


Amores ficam na retina,nas redes vazias,
entre primaveras tardias, nos poemas que cantam
estrelas arredias pousando em mares ternos.
Amores ficam, amores eternos,
nas gavetas trancadas das lembranças eternizadas,
nos outonos tantos de ipês amarelos
amores ficam, amores eternos,
nas praças com nome de Marias ou Helenas,
nas igrejas, nos campanários,na saudade que dispensa calendário
amores dançam nos casacos antigos invernos
melodias que ardem nas brasas quietas da lareira,
no vinho que embriaga o cálice nas sextas-feiras
nas horas em que anos dilacero, sentimentos imutáveis
amores ficam, amores eternos,
ainda que inalcançáveis
amores serão sempre amáveis
...

Sunday, December 17, 2006

Rosas de San Vicent




Trago versos e cicatrizes
Das rosas de vidro de Guadalupe
Rios de cantos negros
Rios de cantos, à boca da noite
Tecendo anjos mulheres e homens de luzes
Meninos sopranos de mel
cantando à lua
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu de San Vicente
Tenho o cheiro dos cortes das rosas
Tatuados na alma
Pétalas das melodias
candeias de estrelas cadentes
apagando as noites suaves
criando manhãs sonoras
auroras bordadas véus
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu...

Thursday, November 02, 2006

Palavra


Pai traz a lavra,
Que a fome é muita.
Pai traz a lavra,
Pois dividem mal.
Pai traz a lavra!
Pai a lavra!
Palavra.

Wednesday, November 01, 2006

Calvário


No cálice que se diz santo.
Busco a embriaguez permanente.
No sacro soar enferrujado dos sinos,
eu rio e choro, numa dança demente.
No resto do pão mal dividido
Farto-me como se fosse banquete.
Nas penitências que não absolveme
não nos redimem as falhaseu adormeço,
e a cruz que carrego
não pesa mais que palha.
Pelas mãos erradas que constroem o sacrário
Pelas contas, tontas,
de tantos dedosa girar o rosário.
Pela porção "anjo" e "demônio"
que nos é hereditário.
Pelas vozes que orientam e confundem
e não hesitam em crucificar-nos a
todo instante
Confesso-me culpado, por ainda ser
tão parecido como antes.
E não preciso de julgamento, sigo só, voluntário.
Pois meu corpo tem as trilhas, os trilhos
chegarei ao meu calvário.

Tuesday, October 31, 2006

Dança das rosas...




Rosa encantada, rosa dos tempos,
Rosa das rodas, diz ao vento:
- A vida é séria, não nos é revelada,
A grande magia.
Rosa encantada, rosa menina,
Vai e avisa, diz, improvisa:
-Atrás do firmamento
É todo ungüento, incenso de anis,
O tempo parado dança o silêncio.
Rosa encantada, diz apressada,
Atrás do firmamento, tem outro firmamento,
De um azul tão intenso, que tudo cura,
Rosa Rosada, rosa de incenso,
A verdade revelada dança o silêncio,
Atrás do firmamento, outro firmamento,
Uníssono e intenso, nada mais, só sentimento.

Sunday, October 29, 2006

Detalhes



Pelos mesmos tons das noites,
Pelos sons de lembranças ternas,
Pelo calor que ainda me sustenta,
Pela tua presença a dançar, dançar,
Em notas suaves, lentas... lenta
A perpetuar teu aroma pelos ares.
Por estar em mim, em todos os lugares,
Pela dor da saudade, pelas lágrimas
Ainda teu nome, ainda teus são os versos,
Que nunca lestes, nem percebestes,
De talhares em mim, todas tuas rotinas,
De talhares em mim, de talhes em talhes,
Todos teus traços, de talhes em talhes
Perpétuos olhares
De talhes, em talhes...
Detalhes...


Tonho França.